terça-feira, 22 de março de 2016

OS BARÕES ASSINALADOS

Nada a ver com Camões ;(

Sempre tentam dividir a humanidade. Seja por cores; por sexo; entre ricos e pobres; entre os que foram pra Disney e os que não foram (coisa de Suassuna); os do norte e os do sul; os crentes em Deus ou Alá ou Jeová; palmeirenses e corintianos, … e também entre nobres e plebeus.

Os nobres fazem parte da classe dominante. “Mas nem todas as classes dominantes constituem uma nobreza. Para merecer tal nome, ela deve, ao que parece, reunir duas condições: primeiro, a posse de um estatuto jurídico próprio, que confirma e materializa a superioridade a que aspira; em segundo lugar, é preciso que esse estatuto se perpetue pelo sangue-salvo" (herança). Marc Bloch em Sociedade Feudal.

Ou seja, o nobre é reconhecido pelo nascimento, pela fortuna, pelo título e pela lei. O nobre é titulado, mas nem todo titulado é nobre, não se deve confundir titularidade com nobreza.

Um nobre é nobre pelo nascimento, pela família, pela hereditariedade. O título é um diploma, um pedaço de papel que acompanha esse nobre. Pedaço de papel que pode ser vendido em caso de necessidade financeira, por exemplo, como uma jóia ou um quadro. O título em si é também um patrimônio de família.



Nas imagens acima, como eram nomeados os Drammis no Ufficio dello Stato Civile de Scandale.  Na primeira o tio de Ernesto, na segunda a avó.

No início do séc. XIX, a família Drammis comprou um latifúndio e com ele recebeu o direito ao título. Sobre isso, leia aqui. O direito ao titulo não necessariamente faria do plebeu Drammis, um nobre, mas faria do plebeu Drammis, um Barão. Um Barão plebeu,  pertencente à nova burguesia agrária enriquecida, e nesse caso em especial, titulado.

(Como isso me lembra os nossos Coronéis nordestinos !)

O tema nobreza  ainda fascina a  Itália contemporânea. Existem centenas de publicações e  listas da nobreza, atualizadas ou datadas, sites que vendem diplomas, brasões, emblemas ou lembranças.

Uma das publicações sobre a nobreza italiana mais importantes é o Libro d'oro della nobiltá italiana, com várias informações sobre as famílias, inclusive genealógicas. Esse livro foi criado em 1889, depois da Itália unificada, anteriormente a listagem era regional. Mesmo depois dos títulos nobiliárquicos terem sido extintos na Itália no ano de 1948, o livro continua sendo atualizado, a ultima edição atualizada é de 2010. Não consegui acesso online ao livro.  Para saber mais clique aqui.


Uma outra publicação é o L'Annuario della nobiltá italiana, que começou a ser publicado em 1879 por Giovanni Battista di Crocallanza. Os 3 volumes  da edição de 1886-1890, estão disponíveis online aqui.

Outras listas disponíveis online:

Lista das famílias nobres italianas do Reino d'Itália, com 13.267 nomes,  aqui.
Lista das família enobrecidas pelo Papa, aqui.
Lista das famílias de nobreza generosa, aqui.
Lista das famílias notáveis italianas, aqui
Listas oficial da famílias inscritas no Corpo della Nobilitá Italiana, aqui
Nobili Napoletani, aqui

Existe ainda uma lista geral e completa das famílias nobres  constantes na  31ª ed. do Annuario, em pdf, uma unificação das listas cima, e nela ...


Em nenhuma das listas e livros que pesquisei encontrei "Drammis", o que corrobora com a não-nobreza da família, condição confirmada pelo pesquisador scandalese Luigi Santoro.

No Brasil Imperial, a coisa se dava de maneira diferente. Aqui não existiam linhagens nobres ... Claro ! Comparados com a Europa, ainda somos uma nação jovem ... sem gerações de sangue-azul, sem a nobreza familiar e milenar. Os nossos nobres recebiam a titularidade diretamente do Imperador. Eram grandes proprietários de terras, como o Barão de Santa Justa (já citado neste blog); grandes figuras nacionais, em agradecimento aos bons serviços prestados,  como o Duque de Caxias por sua ação na Guerra do Paraguai; grandes intelectuais, como o Barão de Vila do Conde, o Dr. João Gomes Ferreira Veloso.

Aqui a nobreza tinha particularidades. A titularidade  era pessoal e intransferível,  ou seja era vitalícia e não hereditária. Assim, por exemplo, o fazendeiro que fosse Barão seria sempre Barão, mesmo se vendesse suas terras.  Não existia, como na Itália, a relação terras-título. Esse fazendeiro seria o Barão, mas não passaria seu título para seu filho, assim por exemplo, existiram o Barão de Santa Justa e o Segundo Barão de Santa Justa, Jacinto Alves Barbosa pai e Francisco Alves Barbosa filho.

Interessante e diferente em relação à Europa era a nomeação dos novos nobres. Aqui, era um tal de Barão de Sirinhaém,  Barão de CoruripeVisconde de Quiçamã, ... nomes de origem indígena e local,  os preferidos do Imperador,
"... para construir um Império na América, o rei seguia as regras primeiras da nobreza européia - guardava a hierarquia dos títulos e suas instituições -, mas inovava nos nomes. Nesse terreno éramos mais dos que nunca uma corte tropical." (pg. 179, Schwarcz)
 Aqui, os nobres perderam seus títulos com a queda da monarquia, em 1889. Na Itália, apenas depois da Segunda Guerra Mundial !! Lá, o direito nobiliárquico é matéria viva, aqui, se é que existe, é incipiente, old fashion.

Na Europa existe um verdadeiro mercado para títulos nobiliárquicos, principalmente ingleses, que são vendidos em sites, veja aqui,  ou oferecidos em leilões, veja aqui.

Nesse site aqui, oferecem e vendem brasões de famílias italianas, inclusive Drammis, será autentico ?


Fontes:

Além dos sites acima,

Costa, Antônio Luiz M.C. - Títulos de nobreza e hierarquias, um guia sobre as graduações sociais na história, Ed. Draci  (Muito legal !!)

Schwarcz, Lilian Moritz - As Barbas do Imperador, Cia das Letras

Collegio Araldico italiano, clique aqui.

Corpo della Nobilitá Italiana, de 1953, aqui

Treccani, a cultura italiana, o tema Nobilitá em várias enciclopédias, aqui






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